sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Uma Garota Como Eu e Você


Em primeiro lugar, o bullying existe, ponto. Eu podia parar esse texto aqui mesmo, metade do que eu quero passar com ele já foi dito e, com essa metade, já me sinto bem mais leve. É incrível, não de uma forma boa, como ainda é falado que o bulliyng é apenas uma brincadeira de criança e que não faz mal para ninguém. Pior, que é algo que prepara as crianças para o mundo adulto. É algo banalizado nas redes sociais e quase sempre colocado como drama, afinal, "na minha época isso já existia e todo mundo sobreviveu, nem nome isso tinha e todos estão bem". Bom, na minha época não tinha nome também e eu não fiquei bem por um bom tempo, na verdade, às vezes eu ainda não me sinto bem. O nome, que na verdade é uma palavra roubada da língua inglesa, chegou bem depois e o que era errado continuou errado. Em segundo, existem sim pessoas más. Existem crianças, adolescentes e adultos que são pessoas terríveis, em níveis variados, mas existem sim. Diminuir o que está acontecendo nunca é a resposta. Não é uma resposta para o bullying, para o abuso ou para qualquer outra coisa. É uma resposta fraca de quem não sabe lidar com o que está claro e todos estão vendo. E é exatamente por isso que eu resolvi que precisava escrever esse texto. Então senta, porque lá vem textão.

Eu estava sem nada para fazer e, como qualquer outra pessoa, liguei a Netflix. Sou chata para escolher filmes e acabo começando uns três antes de finalmente ficar quieta vendo um. Acabou que, dessa vez, segui a indicação do próprio site e comecei a ver um filme que estava entre as principais escolhas para mim. A sinopse não mostrava exatamente como seria a história e, na verdade, estava mais para um filme de terror pelo o que estava escrito lá, mas algo deixava claro que era drama, ou melhor, eu sentia isso. Nos primeiros segundos de filme fiquei com um pé atrás, afinal, era um mockumentary (um filme que se passa por documentário, tipo Bruxas de Blair), mas quando percebi onde eles queriam chegar, me dei conta de que precisava ver. O filme em questão é o A Girl Like Her (2015). Nele conhecemos a história de uma menina, Jessica, que tenta se matar. É assim que a história começa e só aos poucos vamos entendendo o que a fez fazer isso. Tudo graças ao fato de que o melhor amigo dela, Brian, havia colocado uma câmera em um broche para ela. Vamos acompanhando o clássico de como a melhor amiga da menina virou sua maior inimiga e motivo de todos os seus medos. Como uma garota do colegial precisou diminuir outra para se sentir melhor. Seria um clichê sem sentido perfeito, se não fosse o fato de que, por ser gravado para parecer um documentário, vemos vários lados e várias coisas acontecendo. Isso muda tudo. É o por trás do clichê, ou melhor, é o que muitas pessoas vivem diariamente, só que numa tela para todo mundo ver. O filme foi disponibilizado em muitas escolas públicas dos EUA e ainda coloca, como um subtítulo, que foi baseado em milhares de histórias reais.

A história tem atuações legais e uma direção ok, mas não é por isso que estou aqui. Eu simplesmente me dei conta de que ainda é preciso que filmes e séries (oi, Glee) abordem o assunto, porque ele ainda é ignorado e diminuído. E foi assim que eu percebi, também, que o simples fato de eu ficar calada já era algo que afastava o assunto de muitas pessoas. Eu sofri bullying sim. Já comentei algumas coisas aqui no blog, mas acho que nunca com essas palavras. Então vamos lá. Eu sofri na escola sim e lembro muito bem o nome de cada umas das pessoas que me fizeram sentir um verdadeiro lixo. Eu me odiava sozinha, detestava tudo que via no espelho e, quando chegava na escola ainda lidava com pessoas me mostrando que realmente eu era aquele nada. Será mesmo? Minha escola tentou de um tudo, não só com o meu caso, mas com o de muitos que eu conheci, mas, como eu disse, existem sim pessoas más e elas estão pouco se ferrando para o que estão fazendo ou deixando de fazer. Por muito tempo eu ignorei avisos, abraços e conselhos maravilhosos de pessoas que me amavam de verdade por, simplesmente, me deixar levar pelo pensamento de pessoas que, no fundo, só queriam se sentir superiores (e é isso sim, porque resolvi não medir palavras hoje). 

Tentei mudar meu corpo, tentei me mudar várias vezes e precisei cair muito e de muitas formas para perceber que eu não estava errada por não ser como as outras, afinal, ninguém é obrigada a ser como ninguém (ou melhor, como aprendi recentemente e levo para vida, ninguém é obrigado e ponto). Eu descontava em mim um erro que não era meu. Por muito tempo eu sofri escondido, afinal, quem sofre abertamente está só fazendo drama e eu não queria isso. Ah! Não podemos esquecer também que existem pessoas com problemas bem maiores (nunca, eu disse, nunca mesmo, usem essa frase com uma pessoa em qualquer situação na vida). Por muito tempo eu tive muita vergonha de tudo que já fiz por, simplesmente, não me sentir bem. Hoje em dia, graças a Deus e a todas as pessoas maravilhosas que tenho ao meu redor, sei que sou forte e que não sou um reflexo dos erros que tive lá atrás por dar ouvidos às pessoas más. Então sim, me machuquei por que era mais fácil sentir uma dor de verdade. Fiz porque parecia certo. Fiz e me lembro disso diariamente, mas também me lembro de ser forte. Como eu sou. Como você é.

Foi. Saiu. Pela primeira vez na vida eu escrevi isso (e não foi nem perto do fácil). Ninguém quer admitir que já foi fraco, mas faz parte. Somos todos humanos aqui. Não, não sou mais essa pessoa, mas porque descobri outras maneiras de me acalmar, maneiras que não me machucam, nem por dentro e nem por fora, e é por isso que tenho esse blog. O que me faz bem é ler e escrever e é por isso que estou aqui escrevendo histórias e lendo livros maravilhosos para compartilhar com vocês. Ah, também não estou fazendo drama ou pedindo atenção (como muitas pessoas vão pensar... e é por isso, mais uma vez, que é preciso que eu fale tudo isso, porque alguém precisa). Estou aqui porque eu preciso estar aqui. Acredito, de verdade, que nada acontece por acaso. Algo me fez ver esse filme. Assim como algo me fez perceber que eu tenho um blog que milhares de pessoas leem e que nunca na minha vida eu imaginava que isso seria possível. Pode ser que esse texto não mude nada na vida de ninguém, assim como pode ser que uma pessoa leia e veja que pode sim acabar tudo bem. Se uma única pessoa perceber isso, para mim está valendo. Eu recebo muitos emails, mensagens e coisas do tipo por conta do blog. Assuntos dos mais variados e me sinto muito honrada por tantas pessoas confiarem em mim. 

Sei também que não é nada simples falar com uma pessoa profissional, mas saiba que essas pessoas estão preparadas para ouvir e ajudar. Se você ainda não encontrou um lugar ou uma pessoa segura para se abrir, estou aqui, sempre estou. Mas saiba que a melhor opção ainda é conversar com uma pessoa que é profissional no assunto. Li que estamos no Setembro Amarelo e essa é a minha contribuição. Eu estou falando e me oferecendo como exemplo. Não é fácil e é besteira quem fala que é. Não é drama. Não é charme. Não é algo que vai passar, por isso deixa para lá. Não é algo besta. Não é brincadeira de criança. Não é imaginação sua. Você não está exagerando. Não é o que os sabe-tudo falam que é. Mas é algo que pode ser revertido ao lado das pessoas que se preocupam com você de verdade, Eu me preocupo com você e aposto que mais alguém também se preocupa, por mais que pareça que não. Sua vida importa. Muito. Você merece um mundo cheio de oportunidades e amor, por mais que pareça que não. Você é melhor do que o espelho mostra e as pessoas falam. Se eu puder ajudar pelo menos uma pessoa, sei que todo o trabalho de mais de uma hora para escrever esse texto valeu a pena. Vou saber que me abrir tanto valeu a pena. Estou aqui, mais uma vez, para mostrar que é possível e que tudo isso pode ser só uma memória, não precisa ser seu dia-a-dia. Acredite. Tenha fé. Para terminar, uma pessoa que tenho no facebook postou a seguinte frase enquanto eu escrevia esse texto (o que me fez ter ainda mais certeza de que eu realmente precisava fazê-lo): Eu acredito que o sentido da vida seja fazer sentido a outras vidas.

Um comentário:

  1. Que texto lindo,Iza. Sério.Você sofreu pra caramba e daí, tem o blog hoje que te escuta de uma forma completamente louca né?
    Eu me sinto assim quando recito poesias em saraus( sim,rs), sinto como se o mundo fosse meu naquele minuto e as pessoas estivessem prestando atenção na minha palavra.
    Isso é lindo :)

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