sexta-feira, 3 de novembro de 2017

Na Estante: Sorrisos Quebrados


Eu já tinha ouvindo falar desse livro, mas não sabia nada sobre sua história. No final das contas, isso foi bom. Tem hora (a maior parte do tempo, na verdade) que o melhor é ler num livro sem saber nada e sem esperar nada. Eu ganhei esse de presente de uma amiga que tem gostos muito parecidos com os meus. Na dedicatória, ela pediu que eu não lesse a sinopse e que eu me preparasse para chorar. Não chorei durante a leitura, mas não por não ter coração ou algo do gênero, muito pelo contrário. Sou o tipo de pessoa que chora vendo comercial de margarina na TV. Ué, então o que aconteceu? Simples. O choque foi maior que as lágrimas, assim como a revolta e a vontade de gritar ao ler algumas das cenas. Com esse livro, a revolta foi bem maior que a tristeza e isso vai fazer sentido em breve. O livro ficou com cinco estrelas, mas não é devorável. Ele é uma leitura bem difícil, tanto que li em duas partes, assim dizendo. Li metade de uma vez só e aí ficou difícil de ler, não por ser ruim, pelo contrário, por ser bem escrito demais e muito real. Só depois consegui ler o resto. Ok, vamos por partes. Vou contar um pouco mais da história e depois conto melhor o que achei dela.

Paola passou por um verdadeiro inferno na Terra. Seu marido, Roberto, parecia o cara ideal. Na verdade, todos a sua volta tinham certeza que eles tinham o casamento mais perfeito do universo, o problema era que não era bem assim. O ciúme exagerado dele junto com uma personalidade conturbada fez com que ele se achasse no direito de ser o dono de sua esposa e, com isso, a castigava por coisas que só aconteciam em sua mente. Castigos que deixaram marcas permanentes do corpo e na alma de Paola. Foi uma missão quase impossível se livrar dessa vida, mas ela conseguiu. Agora sua vida se resumia em tentar esquecer os pesadelos que tinha vivido e seguir com a vida em uma clínica. Ela não se comunicava muito com outras pessoas e tinha medo de que algo de ruim pudesse acontecer de novo em sua vida. Ela havia se fechado em um mundo de pinturas e cores com medo de deixar alguém entrar. Isso até o dia em que uma menina ligada na tomada chegou em sua vida. 

"Para minha filha, você é a única amiga que ela tem."
Página 77

Ela também frequentava a clínica e ficou completamente doida ao conhecer Paola. Ela queria pintar como ela e não tinha medo das marcas do passado que encontrava em seu rosto. Para a criança, Paola era tipo a Fera, do conto clássico. O que ela não imaginava, era que estava criando uma abertura no escudo que Paola havia criado. Enquanto que Paola nem sonhava que a vida da menininha tinhas cicatrizes profundas, talvez tão profundas quanto as que carregava por dentro. Sol tinha traumas da infância e, por conta disso, se afastava de tudo que era novo. Mesmo sendo muito pequena, não tinha amigos e só ia para a clínica com o pai e os avós. Isso até encontrar a moça que pintava tão bem por lá. Ela precisava ser sua melhor amiga. Ela conseguiu. André, seu pai, não entendia como aquela moça havia conseguido se aproximar de sua filha, mas sabia que aquilo era um avanço sem medidas em seu tratamento e a alegria não cabia nele, por mais que tivesse medo de algo tão incerto. Ele sabia que Paola tinha segredos e marcas profundas demais, mas não podia julgá-la, ele mesmo tinha os pesadelos dele e da filha para lidar. O amor pela criança acaba juntando os dois que ficam completamente perdidos em algo tão novo. Os dois têm medo do que tudo aquilo poderia significar e, muitas vezes, a dor acaba vencendo a vontade. 

"Será que estamos irremediavelmente quebrados?" - Página 98

O livro é de uma carga emocional absurda. Logo nas primeiras páginas já entramos na cabeça de Paola e queremos sair correndo de lá, afinal, não é um lugar seguro. Ao mesmo tempo, não queremos abandona-la, não podemos deixa-la vivendo aquilo tudo sem ajuda. É revoltante. É nojento. É algo que não sei colocar em palavras. É um absurdo pelo simples fato de ser real. Milhares de mulheres sofrem isso diariamente e ler sabendo disso não me fez chorar, me fez querer gritar... de dor, de raiva de tudo e mais um pouco. Paola é mais uma para os números. Mais uma que teve que ouvir que talvez tivesse feito algo para merecer aquele inferno. Ela não fez. Ninguém faz.

André e Sol são a luz no final do túnel. Eles tiveram seus próprios pesadelos e, para a idade de Sol, ela já viveu sufocos de uma vida inteira, mas ainda sim eles se aproximam de Paola. Sol é, como descrita no livro, um raio de luz. Uma menina doce que ama estar perto de quem confia e fala mais que a boca sempre que pode, de um jeito muito único e especial. André não sofreu tanto quanto as duas, mas está tão quebrado quanto, afinal, viu sua filhinha sofrer. Ele não confia nas mulheres tanto quanto Paola não confia mais nos homens. Mas sol está ali no meio disso tudo.

Esse livro é completamente pesado emocionalmente. Sério. Se você já passou por momentos assim em sua vida em primeiro lugar, sinto muitíssimo mesmo, e em segundo, esse livro pode ativar muitas coisas (gatilhos) em sua cabeça. É legal avisar. Não é uma leitura fácil, mas ao mesmo tempo tem um tom de esperança. Um livro que conta uma história de recomeços e de fé na vida. É tanta coisa que é até complicado de explicar. Achei alguns dos personagens secundários levemente desnecessários e um até forçado (não vou dar spoiler, mas quem já leu e quiser saber quem é só me perguntar). No final das contas, não é um livro fácil, mas é um livro real. Indico para quem está precisando de uma dose de esperança e uma luz no final do túnel (com os devidos cuidados, claro). 

Sorrisos Quebrados
Autora: Sofia Silva
Editora: Valentina
Páginas: 232
Skoob do livro.
Meu Skoob.

2 comentários:

  1. Oi Iza, este livro parece bom, confesso nunca ter ouvido falar nele até agora, mas parece bom mesmo. A capa dele é bem criativa e bonita.
    Abraço!
    http://cotidiano-alternativo.blogspot.com.br

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