Faz um bom tempo que quero falar sobre esse assunto aqui no blog. Pensei, inclusive, em gravar um vídeo sobre isso, mas achei que falaria melhor por aqui. Não é que não goste de gravar vídeos, pelo contrário, eu amo! Mas sempre acho que consigo me expressar melhor quando escrevo e também me sinto mais livre quando coloco as coisas em palavras escritas (olha a doida). Vamos parar de enrolar e falar de uma vez. Faz mais de dois meses que esse texto está parado aqui nos rascunhos do blog e aí hoje, dia internacional da mulher, achei que era o momento certo de liberá-lo. Espero estar certa sobre isso, rs. Enfim, feliz dia das mulheres, afinal, não é fácil e a luta é diária, mas nós somos demais.
Desde que comecei a me entender melhor como feminista, ler romances, especialmente os new adults, se tornou uma missão quase impossível. Lembrando que romance é um gênero literário que não necessariamente é romântico. Enfim, muitos dos livros que amo de paixão, isso incluí meu querido Belo Desastre, são cheios de problemas que hoje (com meus 23 aninhos) me assustam. Os livros da Abbi Glines são minha válvula de escape, sério. São livros leves e relativamente divertidos, sempre com muitos personagens e casais diferentes, mas também entram nessa categoria bizarra, por mais que estejam melhorando com o tempo. A lista é grande e os problemas também são. Como assim? Casais cheios de problemas que não são normais e muito menos saudáveis. Isso me assusta? Sim! Mas o que me assusta mais é saber que muitas pessoas novas estão lendo e aplaudindo isso. Inclusive, já estive lá. Ah, mas esse papo de feminista é muito chato e blá-blá-blá. Se você pensa assim, infelizmente nada do que vou falar vai te ajudar, mas quem sabe se você ler até o final você consiga entender um pouquinho do que quero dizer.
Vamos lá, o problema não está em ler esses livros, afinal, eu seria bem hipócrita de falar isso, uma vez que a maior parte das minhas leituras são desse gênero. O problema está em não problematizar e questionar tudo que está lá. O problema está em achar normal a menina da história ter que sofrer tentando mudar o bad-boy que só quer saber de ficar com várias outras meninas, mas que lá no fundo pode mudar por aquela que é a diferente de todas. Ahhhhhhhhhhhh. Ou ainda, aceitar tranquilamente uma relação em que a menina não pode nem sair com amigos para uma festa que a criatura gostosona (o cara, rs) já proíbe, por medo de perder o amor da sua vida. Sério, isso não é nem um terço dos padrões que temos visto por aí. Mas sabe qual me assusta mais? O que livro em que a vida da menina gira todinha em volta de ser aceita e amada por um cara, porque na cabeça dela, só assim ela pode ser feliz e completa. E sabe o que é pior? Não são nem só os new adults que se encaixam nisso, são noventa por cento dos livros de romance atual. Tudo bem você buscar um amor, só não pode se anular no processo.
Vamos lá, não tem nada de errado em você (ou a personagem) querer encontrar alguém legal para passar o resto da vida amando e sendo amada. Somos humanos e isso é normal e completamente aceitável. O que não está certo, e me preocupa, é a vida da pessoa ser apenas isso. Essa história de achar sua metade é furada, um casal não é feito de duas metades, mas sim de duas pessoas inteiras. Não ter amigos (livros em que não temos personagens secundários que mostram que a personagem tem vida além do romance), não ter sonhos (quando tudo ser resolve simplesmente por ter um namorado), não ter uma vida sem o outro (afinal, você pode estar junto com alguém, mas continua sendo uma pessoa com sua própria vida). Os livros em que as personagens estão buscando alguma coisa que sonham, ou trabalhando muito duro por algum emprego ou, simplesmente, vivendo a vida normal delas são algo raro. Claro que existem livros com esses temas, mas todos estão recheados de romances, muitas vezes forçados, que se destacam mais do que a própria vida da personagem. Ok, ela está buscando seu sonho de ser uma grande atriz, mas aí vai e conhece um ator mega famoso e muda todo o curso de sua vida e ele é tudo que ela sempre quis e não sabia, aí a história passa a ser sobre o amor deles, as brigas que vão ter por conta de fofocas e como ele a ajudou a realizar seu sonho, mas não é mais sobre o sonho dela e a vida dela. Porque a vida dela virou só ele. Ou ainda uma menina que acabou de entrar na faculdade com muitas ideias para seu futuro, mas aí conhece o cara mais gato do campus que vai virar a vida dela de cabeça para baixo e daí para frente é só isso. Como os dois estão se pegando pelos cantos e ele fica bravinho quando ela tenta fazer algo sem ele. A história deixa de ser sobre a vida acadêmica dela e passa a ser sobre o amor maníaco dele.
O que quero com esse post não é mudar o mundo (por mais que seria bem legal se fosse fácil assim), mas sim colocar uma pulguinha atrás da orelha de algumas (e alguns) de vocês. Ler é uma atividade que nos dá prazer, mas também pode nos ensinar muito e nos fazer pensar muito sobre quem somos e a sociedade em que vivemos. Continuo lendo esses livros? Sim, não vou mentir, afinal, vocês acompanham todas as minhas leituras. O problema não está no livro da atriz que se apaixonou pelo ator muito famoso, nem na menina da faculdade que se perdeu nos braços do bad-boy. O problema está em achar que isso é a única opção. Não estou aqui para ditar regras, credo, longe de mim. Mas para lembrar que podemos escolher nossas histórias. As da nossa vida e as que vamos ler. Podemos sim buscar um grande amor, mas sem esquecer que somos pessoas e que importamos. Sem deixar o outro (ou outra) dominando nossas escolhas. No final das contas, sem feminista é isso para mim. Ser dona do meu nariz e das minhas escolhas. Se empoderada por saber que minhas escolhas são minhas e buscar que as outras meninas se sintam assim também. Como sempre, não sei se temos algum sentido nesse post, mas pelo menos estou mais leve por ter escrito ele.
Bela, acredite: esse post faz muito sentido e acho que nós - que continuamos lendo esses livros - precisamos falar mais sobre o assunto.
ResponderExcluirO new adult ainda é o meu gênero favorito dentro do romance romântico, além de ser o que eu mais leio, é também o que eu mais escrevo, e grazadeus eu ainda acho livros com poucos problemas desse tipo e que, principalmente, não normatizam o abuso e o machismo e a menina largando tudo pelo boy e vivendo em torno da vida dele. Não acho crível que os mocinhos sejam inteiramente perfeitos quando, na vida real, eles obviamente não são. Mas tratar esse tipo de assunto no livro como algo banal e como se fosse normal é que é o problema pra mim. E dói que são mulheres passando isso pra outras mulheres.
Eu tenho 21 anos, o feminismo está na minha vida já tem algum tempo, tenho bem definido o que é bom e o que é ruim num relacionamento. Mas eu já tive 16, 17, eu já achei normal e bonito e romântico situações nos livros que eu nem fazia ideia de que deveria problematizar, tem livros que eu li e amei no passado que eu tenho até medo de reler porque eu sei que eu vou achar abusivo pra caramba. Tem livro que passaria como "normal" pela minha eu antes do feminismo que hoje não desce. Mesmo. Às vezes é "escondido", mas às vezes é tão escrachado que não dá pra continuar com a leitura.
Mas tem livros que eu acabo relevando. Eu consigo assistir o último filme de Cinquenta Tons de Cinza, achar ok e ainda assim saber que aquele tipo de relação não deve ser idolatrada, almejada ou qualquer coisa do tipo; eu consigo suspirar com algumas atitudes de um mocinho de livro sem me julgar por isso e condenar aquelas daquele mesmo personagem que eu sei que não são saudáveis; às vezes dá vontade de dar na cara da mocinha pra ela acordar e é triste quando não acontece, mas é...
Me preocupa que meninas & mulheres achem certos comportamentos normais. Não só com os livros, mas na vida mesmo.
Não que eu, você e outras feministas estejamos imunes a relacionamentos trash apenas por termos noção do que é abuso/abusivo ou não, também, mas gosto de pensar que serei capaz de não entrar, ou mesmo sair, de algo que não vai me fazer bem. Ou que, se fizer, será puramente momentâneo.
Não sei se eu fiz muito sentido, e sorry o textão em forma de comentário, mas eu só queria dizer que o seu texto importa, sim, e que eu queria ver por aí mais gente falando sobre esse tópico. <3
Oi Isa
ResponderExcluirEu amei o seu post. Eu precisava ler algo como ele. Ultimamente estou ouvindo tanta merda de pessoas que não entendem o feminismo que eu me sinto vivendo em um mundo onde nada faz sentido e onde eu não me encaixo em lugar algum. Eu adoro ler romances românticos, mas nunca foi do meu agrado quando tem o macho controlador destruindo a vida da mocinha. Eu já vivi relacionamentos bem conturbados, então acho que era isso que me irritava, sabe? Mas acho que essas mocinhas passam mais ou menos o que eu passava, que é algo que muito se fala: Quando estamos em um relacionamento abusivo, a gente não se da conta disso.
Vidas em Preto e Branco
Nossa, sabe quando um texto te representa? Senti isso agora. Eu vivo lutando por isso, o maior problema é não saber identificar o problema naquilo que estamos lendo. Tenho muito medo que os adolescentes que leem esses livros hoje cresçam acreditando que tudo bem viver em um relacionamento abusivo se as pessoas se amam.
ResponderExcluirÉ sempre bom visitar seu blog, hehe'
https://caromundoestelar.blogspot.com.br/
Iza, eu so vi esse texto maravilhoso agora mas super me pegou agora, eu tenho quase 18 anos e eu simplesmente amo livros new adult, mas me considero feminista. Eu li o meu primeiro livro new adult aos 14 anos( tudo bem pode falar, foi bem nova mesmo,eu entendo que nessa idade eu não deveria ler esse tipo de livro, mas li muita fanfic antes, então me impressionou, como parecia uma e acabei gostando muito.), meu primeiro livro foi paixão sem limites da Abbi e naquela epoca eu simplesmente amei o livro, o rush virou um sonho ds cara e então eu segui meu caminho no meio de NA,eu li bela distração, mas nunca belo desastre, aos meus 15 anos eu descobri o feminismo, e um click se fez na minha mente, sem mais machismo, sem relacionamentos abusivos, isso me moldou como adolescente e me mudou como leitora, háa hoje livros que eu li na epoca antes disso que eu abomino, de tao medonho que era, minha vida seguiu e eu continuei amando romances, mas agora eu sou bem mais critica com os livros e simplesmente, não gosto mais dos maddox e meu amor pelo rush quase acabou, mas meu no gosto nao me proibiu de ler NA, eu achei livros bons e nd abusivos no relacionamento do casal, livros como O Acordo, que é agora meu romance favorito( livro que eu já recomendei a vc). Mas chegando de lenga lenga, eu acho super necessário saber separar e unir os dois na hora certa, eu cometo erros ainda em algumas escolhas, por eu sou meio nova ainda,mas pretendo mudar mais, e saber escolher melhor, mas nunca abandonar meu gênero favorito de livros, ler nao tem que ser tudo sobre defender uma cousa, tem a ver com entretenimento, ter a ver com o divertido, por isso acho supervalido blogs com resenhas verdadeira, mostrando o bom é o ruim,para adolescentes como eu ja fui nao cairem, ou acreditarem que o amor, um relacionamento assim seja saudável.
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